domingo, 21 de abril de 2013

Brincadear

Brincar é um ato de construção e de autoexpressão por meio
da criação e experimentação dos recursos disponíveis. O que
seria mais sério e fundamental para nós senão nos conhecermos
e nos construirmos como pessoas? Afinal, não é disso
que trata toda a ciência?
Porém, ninguém se constrói em processos solitários e sem
referências. Temos todos intensa necessidade de vínculo com
outras pessoas e da mediação delas. Procuramos nos outros
atitudes coerentes, firmes e sensíveis que nos ajudem a dar
base ao nosso próprio ser. Dentro de uma creche isso significa
o educador poder abrir mão da distância controladora e por
vezes mecânica, de ficar “arrumando” o grupo dentro de uma
ordem cega, para vestir-se de atitudes humanas mais próximas
da criança. Buscar um diálogo verbal e não verbal com o
grupo, sem lançar mão de um autoritarismo arcaico que nada
constrói, e conseguir aceitar a seriedade do brincar.
Dessa forma, mantemo-nos firmes na expressão gestual e
verbal da infância, que não perde a chance de guiar nossos
caminhos como educadores. Organizamos nossos fazeres
com base na observação atenta do brincar espontâneo das
crianças para, então, criar uma relação efetiva com a experiência
educativa e fortalecer a atitude e o planejamento dos
educadores. Um aprender fazendo junto com os alunos e estabelecendo
vínculos vivenciais para, em seguida, estruturar
as ampliações culturais, fundamentais na construção de conhecimento
das crianças. Assumimos, portanto, nosso papel
de aprendizes da infância como forma de não sucumbirmos à
tentação de nos tornarmos autoridades da informação, do saber
conceitual, e, assim, corrermos o risco de nos distanciarmos
daquilo que nos é mais caro: a infância em sua essência.
Nesse sentido os nossos eixos de trabalho têm sido:
1. Valorização da cultura lúdica dos participantes, estabelecendo
conexões com a importância das simplicidades
do brincar.
2. Validação e estímulo do brincar espontâneo no espaço
escolar.
3. Reflexões e prática sobre brinquedos não estruturados,
um importante recurso de autonomia e flexibilidade de ações.
4. Sensibilização sobre o brincar em espaços externos e sobre
a importância do corpo como fonte de experiência.
5. Valorização da natureza e dos quatro elementos como
organizadores de explorações e descobertas fundamentais
à autocompreensão.
6. Reorganização do tempo e do espaço do brincar como aliados
das expressões das crianças.
O tempo do brincar
Há que se dar chance às crianças de experimentarem
o mundo, mais ou menos como os cientistas fazem. Uma criança
é também um cientista, um antropólogo, um veterinário,
um artista, desde a hora em que se levanta até adormecer.
Acorda ávida por conhecer novas palavras, novas formas de
amassar uma folha de jornal, por investigar como o vento bate
nas folhas do jardim, como a tinta verde se mistura com a azul,
e assim por diante.
Caso a criança seja submetida a um rígido programa de diversificação
de atividades, ela corre o risco de intensificar suas
ansiedades e não alcançar um aprofundamento no que se propõe
a fazer. Mais ou menos como se um dia dissessem a um
cientista de laboratório que ele tem 20 minutos para testar um