domingo, 24 de junho de 2018

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Mais leitura informativa

Antes de iniciarmos o trabalho de pesquisa,
é importante mostrar qual a concepção de
criança que existe entre nós e qual o significado
do termo brincar.
À primeira vista, os termos criança e infância
parecem ser sinônimos, porém existem
entre eles algumas diferenças que merecem ser
analisadas.
Do ponto de vista etimológico, a palavra
criança, de origem latina – creator-creatoris –,
significa um ser humano de pouca idade. Nesse
sentido é que, ao longo da história, ela se diferenciava
do adulto, não havendo nenhuma preocupação
com o seu comportamento, com a sua
cultura ou, até mesmo, com o seu papel dentro
da sociedade.
Segundo Ariès (1975), sabe-se que até por
volta do século XII havia um desconhecimento
da infância, pois a criança era encarada não só
como um ser de pouca idade, mas, também,
como se houvesse um padrão médio, único e
abstrato de comportamento infantil no qual ela
pudesse se encaixar. Até então, as sociedades
se caracterizavam por uma visão de homem e
de mundo ideal fora do seu contexto histórico,
econômico e político. A ausência de reflexão e
de entendimento teórico tornava comum a prática
de opressão e de dominação.
Poucas eram as crianças que sobreviviam à
falta de higiene. Muitas nasciam, porém poucas
conseguiam vingar. A sociedade não se detinha
em torno da infância porque não havia nenhum
interesse por ela. Era apenas um período de
transição, e a criança morta não era digna de
lembrança. Crianças eram vistas fora da classe
social à qual pertenciam e desconhecia-se sua
vida familiar, seus costumes.
Na arte, por exemplo, antes do século
XIX, as imagens das crianças sugeriam que a
sua vida se misturava com a dos adultos. Foi,
porém, a partir desse período que começou a
existir a separação entre ambos, surgindo o
moderno sentimento de infância.
Logo, se por um lado a idéia de criança significava
a de um ser de pouca idade sobre o
qual se ignoravam as condições sociais de vida,
por outro o conceito de infância, termo também
de origem latina – infans-infantis – que indicava
aquele que não fala, está associado hoje à
questão cultural, ou seja, implica o lugar que a
criança ocupa na sociedade.
Diante dos significados que os termos
assumem, podemos perceber que, enquanto
à criança associa-se a ideia de uma etapa do
desenvolvimento humano, à infância associa-se
a cultura, o contexto, enfim, o modo de vida no
qual ela está inserida.
A realidade atual tem mostrado que não há
mais a preocupação com uma criança padrão,
mas com a infância dentro de um contexto cultural,
social, político e econômico do qual a
criança é parte integrante, merecendo, portanto,
atenção e cuidado. É, certamente, cuidando da
infância que poderemos, entre outras coisas,
reduzir a pobreza, diminuir a violência e a marginalidade,
respeitar a diversidade e melhorar o
bem-estar e a qualidade de vida das crianças e
de suas famílias.
No século XX, passou-se a reconhecer que
existem muitas crianças e muitas infâncias,
pois elas se inserem em diferentes contextos.
Um marco importante nesse processo de
reconhecimento foi a Declaração dos Direitos
da Criança, assinada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em novembro de 1959. Tal
documento tem por objetivo garantir às crianças
de todo o mundo condições de uma vida
digna, gozando de proteção, alimentação,
acesso à escola, à saúde, ao lazer (incluindo o
brincar), isto é, o mínimo necessário para seu
desenvolvimento adequado.


 1.1

A origem da pesquisa
O desenvolvimento do processo de industrialização,
o crescimento dos centros urbanos
e as alterações nos padrões de vida, nos costumes
e nos valores acabaram alterando a educação
da infância em todas as classes sociais no
Brasil e em todo o mundo. Dentre essas transformações,
nos últimos 50 anos, merece destaque
o fato de que vários países têm voltado seus
esforços para melhorar a educação e o cuidado
com as crianças, passando a se preocupar com
sua formação desde a primeira infância.
Embora se saiba que a educação é a matéria-prima
para o desenvolvimento sustentável do
ser humano e que é necessário elaborar estratégias
e programas para que ela adote a perspectiva
de um trabalho permanente, sabe-se,
também, que os sistemas educativos estão com
muitas dificuldades para atender à demanda,
que aumenta dia a dia.
A necessidade de oferecer uma educação de
qualidade para todos esbarra, na maior parte
dos países, em dificuldades financeiras, na falta
de recursos, na sua adequada aplicação e na
maneira de conciliar equidade e qualidade.
Mesmo depois da Conferência de Dakar
(2000), de acordo com Gonzalez (2006a), a
comunidade internacional terá que mobilizar
novas fontes de financiamento e buscar novas
saídas para seus problemas educacionais. Além
disso, segundo Delors (2003), a própria educação
está mudando, pois surgiram novas possibilidades
de aprender para além da escola, já que, nas suas múltiplas formas, ela deve fornecer às
pessoas um conhecimento dinâmico do mundo
desde a infância até o final da vida.
Diante das novas perspectivas, muitos trabalhos
têm discutido a educação, especialmente
sob a ótica dos que ainda não conseguiram
atingir a escolaridade obrigatória. Isso fez com
que principalmente a infância ganhasse diferentes
significações em inúmeros países, até
mesmo porque as crianças já não passam mais
os primeiros anos de vida com os pais. Muitas
delas acabam vivendo em ambientes distintos
dos domiciliares.
Entendidas como planos governamentais, as
políticas públicas cujas metas propõem ações
na área da infância nem sempre dão conta das
contradições e dos impasses existentes. Diante
dessa realidade, as indústrias, as organizações
não governamentais (ONG s) e grupos organizados
de profissionais da sociedade civil têm
buscado, cada vez mais, um aprofundamento
no estudo dos problemas sociais, a fim de contribuírem,
com o poder público, na busca de
soluções.
Nesse sentido, a Unilever Brasil – empresa
com várias iniciativas sociais voltadas para
melhorar a vida das crianças – patrocinou este
projeto de pesquisa, através da marca OMO,
para conhecer um pouco mais o desenvolvimento
e a aprendizagem infantis e, em particular,
o brincar das crianças brasileiras.
Denominou-se o projeto de pesquisa (chamado
simplesmente “projeto” neste relatório) e, evidentemente,
também esta obra de A descoberta
do brincar.
Formou-se uma equipe multidisciplinar
(chamada “equipe de trabalho” neste relatório)
para elaborar e executar o projeto. Essa
equipe incluiu profissionais de inúmeras áreas
e formações variadas, entre elas pedagogia,
psicologia, administração, sociologia, antropologia,
estatística, economia e assistência
social. Pelas experiências profissionais de seus
membros, a equipe também representava os
setores privado, público e o terceiro setor. A
natureza multidisciplinar da equipe foi fundamental,
uma vez que se entendia que o brincar
e o desenvolvimento infantil são complexos e
multifacetados e que um projeto desse tipo ia
ser muito enriquecedor por contemplar conhecimentos
e visões diferentes.
A equipe de trabalho teve como ponto de
partida a noção de que a mensuração e o desenvolvimento
de ferramentas para uma melhor
compreensão de cenários sociais e para a avaliação
e o monitoramento de projetos são um dos
grandes desafios que se enfrentam na procura
para otimizar a utilização de recursos em ações
sociais mais eficientes (independentemente
de quem iniciou ou gerencia a ação: indústria,
poder público ou ONGs). Com o projeto, pretende
contribuir para o desenvolvimento dessas
tecnologias sociais e dividir esse conhecimento
com a sociedade em geral.
Devido ao rico conteúdo abordado na investigação,
a equipe de trabalho quis socializar e
discutir seus resultados com a sociedade para
ajudar no debate já iniciado por pedagogos,
psicólogos, médicos, artistas plásticos, profissionais
da área da saúde, assistentes sociais e
tantos outros que estão envolvidos no universo
do desenvolvimento infantil e na preservação
dos direitos da criança.
Este relatório é uma das maneiras de a
equipe disseminar este projeto, que durou mais
de um ano.
Convidamos você, caro leitor, a entrar no
projeto e na sua discussão, fazendo suas próprias
reflexões sobre o trabalho e, então, sobre
o mundo a sua volta. Convidamos você a desvendar,
criticar e contemplar o brincar, assim
como a conversar com outros sobre ele. Convidamos
você a descobrir o brincar e a brincar.


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