Diagnóstico e
Tratamento dos Problemas de Aprendizagem
O processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da
cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação. A partir
desta linha de pensamento, atribui-se à educação quatro funções
interdependentes. São elas: a. Função mantenedora da educação: a continuidade
da espécie humana ocorre através da aprendizagem de normas que regem a ação
possível; b. Função socializadora da educação: o indivíduo como ser social,
como parte do grupo quando se submete ao mesmo conjunto de normas; c. Função
repressora da educação: instrumento de controle que tem por objetivo conservar
e reproduzir as limitações que o poder destina a cada classe ou grupo social,
segundo o seu papel socioeconômico. Não é reconhecida como repressora na medida
em que, através dela, o sujeito torna-se depositário de um conjunto de normas
que passa a assumir como sendo sua própria ideologia; d. Função transformadora
da educação: revelação, por parte de grupos, de formas peculiares de expressão
revolucionária a partir de mobilizações primariamente emotivas advindas das
contradições do sistema. Em resumo, em função do caráter complexo da função
educativa, a aprendizagem se dá simultaneamente como instância alienante e como
possibilidade libertadora. O alcance da psicologia é delimitado aos fatores que
determinam o não-aprender no sujeito e pela significação que a atividade
cognitiva tem para ele; desta forma a intervenção psicopedagógica volta-se para
a descoberta da articulação que justifica o sintoma e também para a contrução das
condições para que o sujeito possa situar-se num lugar tal que o comportamento
patológico se torne dispensável. A aprendizagem é constituinte de um efeito e,
neste âmbito, trata-se de uma articulação de esquemas dividida em 04 dimensões:
1. A dimensão biológica do processo de aprendizagem: dividida em três tipos de
conhecimento, a saber, o das formas hereditárias programadas junto ao conteúdo
informativo relacionado ao meio de atuação do indivíduo, o das formas
lógico-matemáticas que se constroem progressivamente segundo os estádio de
equilibração crescente e por coordenação progressiva das ações que se cumprem
com os objetos, e o das formas adquiridas em função da experiência, que
fornecem ao sujeito informação sobre o objeto e suas propriedades; 2. A dimensão
cognitiva do processo de aprendizagem: diferenciada em três tipos, a saber,
aquela na qual o sujeito adquire nova conduta baseada no ensaio e erro, a
segunda baseada na experiência como função de confirmação ou correção das
hipóteses (mecanismos de antecipação e retro-ação capazes de corrigir a
aplicação do esquema e promover a acomodação necessária), e por último a
aprendizagem estrutural, vinculada ao nascimento das estruturas lógicas do
pensamento, através das quais é possível organizar uma realidade inteligível
cada vez mais equilibrada; 3. A dimensão social do processo de aprendizagem:
compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura
exercitando, assumindo e incorporando uma cultura particular; 4. O processo de
aprendizagem como função do eu (yo): o ego como estrutura que tem por objetivo
estabelecer contato entre a realidade psíquica e a realidade externa. Com
relação às condições externas, é comum a criança com problema de aprendizagem
apresentar algum déficit real do meio devido à confusão dos estímulos, à falta
de ritmo ou à velocidade com que são brindados ou à pobreza ou carência dos
mesmos e, em seu tratamento, se vê rapidamente favorecida mediante um material
discriminado com clareza, fácil de manipular, diretamente associado à instrução
de trabalho e de acordo com um ritmo apropriado para cada aquisição. As
condições internas da aprendizagem fazem referência a três planos estreitamente
inter-relacionados. O primeiro é o corpo como infra-estrutura neurofisiológica
ou organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos e queé mediador da
ação. O segundo refere-se à condição cognitiva da aprendizagem, ou seja, à
presença de estruturas capazes de organizar os estímulos do conhecimento. E por
fim, o terceiro plano se refere às condições internas da aprendizagem que estão
ligadas à dinâmica de comportamento. Podemos resumir a definição de ‘condições
externas’ como aquelas que definem o campo do estímulo e ‘condições internas’
as que definem o sujeito. Ambas podem ser estudadas em seu aspecto dinâmico,
como processos, e em seu aspecto estrutural como sistemas de forma que, a
combinatória de tais condições nos leva a uma definição operacional da
aprendizagem, pois determina as variáveis de sua ocorrência. O problema de aprendizagem
pode ser considerado como um sintoma, um sinal de descompensação. Assim, o seu
diagnóstico está constituído pelo seu significado. Os fatores fundamentais a
serem levados em consideração no diagnóstico de um problema de aprendizagem
são: 1. Fatores orgânicos: integridade anatômica e de funcionamento dos órgãos,
funcionamento glandular, alimentação e condições de abrigo e conforto entre
outros fatores; 2. Fatores específicos: refere-se a certos tipos de transtornos
na área de adequação perceptivo-motora, em especial aqueles que aparecem no
nível da aprendizagem da linguagem, sua articulação e sua lecto-escrita, e se
manifestam numa série de perturbações (ex-alteração da seqüência percebida; 3.
Fatores psicógenos: problema da aprendizagem pode surgir como uma reação
neurótica à interdição da satisfação, seja pelo afastamento da realidade e pela
excessiva satisfação na fantasia, seja pela fixação com a parada de crescimento
na criança; 4. Fatores ambientais: refere-se ao meio ambiente material do
indivíduo, às possibilidades reais que o meio lhe fornece, à quantidade, à
qualidade, freqüência e abundância dos estímulos que constituem seu campo de
aprendizagem habitual.
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